Não é à toa que eu chamo o Victor Dertassoli de nosso arqueólogo automotivo, pois além de um bom pesquisador apaixonado pelo tema, ele tem atraído ótimas histórias entre homens e máquinas. E foi em uma de suas andanças pela terra da garoa que ele conheceu nosso amigo Fabio Siman da Laser foto e video que tem Alma Automotiva de sobra em sua família.
Família na qual a paixão por carros vem passando de pai para filho, paixão essa que levou ambos a comprarem um Ford Bigode ano 1929 e juntos trabalharem em sua reforma! Dentre a restauração e melhorias, o carro ganhou um coração novo, isso porque a missão desta unidade é muito especial! Sim, além de seus 92 anos de história, o Fordinho faz parte de muitos momentos inesquecíveis.
O pequeno charmoso é utilizado em eventos, eternizando momentos especiais de muitas pessoas. O Fábio conta que isso traz uma energia ainda mais incrível ao carro, dentre os seus momentos preferidos, ele nos contou que é um privilégio poder carregar o papai Noel todos os anos neste carro! Ele nos contou também que ele é o último dono, de todos os carros que tem para trabalhar, esse ele não vende por nada!
Isso tudo me fez refletir. Amamos os carros perfeitos que guardam a história do automóvel em coleções e museus; mas amamos ainda mais em saber que este senhor automóvel de 92 anos de idade sai para um nobre trabalho aos finais de semana, que também participa dos passeios de família e que continua fazendo história, colocando um sorriso no rosto daqueles com Alma Automotiva por onde passa, afinal, carro parado não conta história.
De pai para filho
Sendo Thomas Alva Edison um de seus grandes incentivadores, Henry Ford (1863-1947) foi um grande visionário, cujos feitos transgrediram (e muito) o mundo automotivo.
Em 1903, funda a marca do oval azul, ícone do capitalismo e que alguns anos depois introduziu a linha de montagem em série do automóvel, sendo este processo um limiar de uma nova era, que mudou para sempre o cenário sócio-econômico daquela geração em diante.
De fato inédito, o modelo T (1908-1927) protagonizou a produção em massa de um automóvel, atingindo um total de mais de 15 milhões de unidades em quase duas décadas de fabricação.
Tal sucesso foi além das fronteiras norte-americanas, já que, em 1919, a Ford se estabelece no Brasil, tornando-se a primeira indústria automotiva em território nacional. Após o encerramento de produção do Ford T, outros viriam a continuar esta trajetória de superlativos.
Seu sucessor, o Modelo A é a estrela da vez aqui no Alma, e manteve o legado à altura.
Mesmo com a crise de 1929, este modelo do mesmo ano foi sucesso de vendas, tanto que o total de suas unidades produzidas atingiram a casa dos milhões.
Com diversas opções de carroceria (inclusive pick-up), o modelo das fotos tem quatro portas, capota de lona retrátil e detalhes de época pra lá de curiosos: abertura da tampa do motor em duas partes simétricas, pneus com faixa branca, estepe exposto na parte traseira, limpador manual (!) de para-brisa e a clássica buzina dos carros das décadas de 10 e 20.
Originalmente com bloco de ferro e 4 cilindros, o motor do Modelo A era robusto e com câmbio manual e tração dianteira foi capaz de mover seus cerca de 970 quilos pelas ruas e estradas brasileiras, fazendo história, em especial, na vida de Fabio Siman e de seu pai, José Roberto Siman, que preservaram com muito esmero este modelo, que até hoje participa de momentos singulares na vida de várias pessoas.
Raríssimo, resiliente e charmoso, esse nonagenário é a Alma Automotiva em si.
Texto: Maurício Garcia e Victor Dertassoli e Foto: Maurício Garcia
Agradecimentos: Fabio Siman da Laser foto e video e Victor Dertassoli