Economia de combustível com novas fontes de energia, babás eletrônicas, tela touchscreen, tendências de mercado, downsizing de motor, posicionamento de produto e o bom senso. Se é isso que você procura, nem continue a ler essa matéria.
A beldade paranaense que chega aqui no Alma está bem distante desse atual contexto.
A Dodge chegou ao Brasil na década de 60, trazendo alguns modelos, como o Polara, LeBaron, Magnum, Charger e o Dart, esse em 1969 e na versão R/T em 1971, e fez-se então uma lenda do asfalto, criando uma cativa e apaixonada legião de fãs.
A Dakota foi lançada nos Estados Unidos em 1987 e essa primeira geração perdurou até 1996.
Num sopro de esperança para nós brasileiros, através da Chrysler, sua proprietária, a Dodge então voltou ao nosso país no final dos anos 90, e em Campo Largo no Paraná, iniciou em 1998 a produção da segunda geração (que em sua terra natal obteve altos números de venda) da Dakota, que perdurou até 2001.
Teve uma motorização a diesel (2.5 turbo de 115 hp) e três à gasolina, sendo a versão standard, com motor 2.5 de 4 cilindros e 121 cavalos; a Sport, com motor V6 de 3.9 litros e 177 cavalos de potência e no ano 2000 lançaram a R/T, com o saudoso V8 de 5.2 litros.
Teve a versão SUV (raiz) chamada de Durango, que não foi produzida aqui no Brasil e, portanto, é raríssima. No mercado externo, continuou até a terceira geração, encerrando em 2011.
Seus 5,46 metros de comprimento e 1,81 metro de largura são medidas obscenas para uma cidade grande e o mais divertido em se amar uma pick up desse tamanho é ver as reações de algumas pessoas ‘’…mas pra que tudo isso?…um V8 aqui em São Paulo, você é louco?…onde vai encontrar vaga pra ela?…mas vai mesmo usar toda a capacidade da caçamba?’’ Perguntas racionais que a Baby Ram, digo…Dakota não tem o porquê responder.
As pick ups e station wagons têm um significado nostálgico para mim, e a Dodge Dakota, desde seu lançamento era um dos anseios em minha família para ocupar uma vaga na garagem. Isso não aconteceu, o que contribuiu para aumentar toda uma expectativa que se cria no imaginário de quem almeja um carro.
O automóvel tão sonhado que ainda não foi realizado é sempre rodeado de um certo enigma para quem o deseja. E com a Dakota, em especial a versão R/T (Road and Track), isso permaneceu forte até então, quando finalmente depois de tantos anos, graças a meu amigo André Fernandes, consegui dirigir essa tão sonhada pick up.
Logo cedo pela manhã, dada a partida, o V8 rugia, pedindo para dar uma volta, e eu, acatando sua ordem, o levei para passear até o local mais do que especial e que se encaixa perfeitamente para essas incríveis fotos.
O Manolo e eu pensamos bastante sobre como encaixar essa ‘’pequena’’ em um cenário de acordo com toda a exuberância de seus 1974 kg e uma caçamba com nada menos que 1327 litros de capacidade.
E então foi lá que os raios de sol (o poético termo viralizado na internet) filtrados pelas árvores destacaram os highlights de seu shape, que é especial na versão R/T, com alargadores nos para-lamas, rodas de 15 polegadas e a característica grade em 4 partes na cor da carroceria.
Os vincos de capô (que ostenta o extinto símbolo do cabrito montanhês) que saem da grade se abrem em direção ao para-brisa dão rebaixo em relevo na forma dos paralamas, mantendo o DNA típico das gerações bem mais anteriores das pick ups da marca, também como a linha de cintura da caçamba, e tudo isso numa volumetria com design muitíssimo bem acertado e arredondado.
Longe de performance ou quaisquer outros dados para discussões de super trunfo, o incrível é a sensação que ela provoca. Dirigir é algo sensorial, e para nós que temos Alma Automotiva essa interação entre motorista e automóvel nem sempre é explicada em números ou dados técnicos. Ok, seu motor Magnum 5.2 tem 232 cavalos e brutos 41,6 kgfm de torque, que é basicamente o mesmo e saudoso motor de 318 polegadas cúbicas de décadas antes dela, mas a personalidade com a qual ela gera esses números é o mais divertido e inusitado, e aí nem sempre os adjetivos (ou até palavrões) ditos por quem a acelera são suficientes.
Cerca de 180 Km/h de velocidade máxima parecem pouco, mas numa gigantona dessa são pura diversão, que é despejada com toda força nas rodas traseiras (nos EUA teve a versão com tração nas quatro rodas), onde a suspensão segue a clássica receita de eixo rígido na traseira.
Ela vinha de fábrica com pneus mistos (235/75 R15) e boa distância do solo, o que levou alguns proprietários a diminuírem a altura de suspensão e colocando pneus voltados para performance, tornando-a mais próxima das Dakota R/T norte-americanas.
Além dessa estendida, teve mais duas configurações de cabine (simples e dupla).
Esse exemplar foi movido a gás e está sendo salvo pelo nosso amigo André, uma vez que ele retornou sua configuração para gasolina e está fazendo demais ajustes para deixá-la cada vez mais impecável, como podemos ver em seu interior, muitíssimo íntegro, com bancos em tecido, air bags frontais, rádio CD player (Ah, os anos 90/00!), ar-condicionado e vidros elétricos.
Quase um 2+2 em uma pick up, os 3,32 metros de entre-eixos possibilitam um assento traseiro que acomoda com aperto uma criança ou adulto, desde que para percursos curtos. A alavanca da transmissão automática de quatro velocidades na coluna de direção permite mais espaço interno e com isso, três assentos dianteiros, sendo o do meio com encosto rebatível, e assim, de acordo com nosso grande Renato Bellote ‘’…para você dirigir do melhor modo americano, com um refrigerante aqui…bem folgado…’’. E ele tem razão, afinal, a ergonomia do banco e posição de dirigir é quase a mesma de estar sentado em uma poltrona com pedais um volante para controlar um V8 de forte temperamento.
Enfim, conhecer a Dakota foi uma das maiores satisfações que tive até hoje no Alma Automotiva e com certeza momentos como este nos motivam a ir adiante na busca por mais conteúdo e carros que nos despertam as melhores emoções possíveis.
A magnifica combinação de um V8 (o último brasileiro) com uma picape com o toque especial nacional. Essa é a Dakota.
Nem sempre disposta a ser o carreto da família e dos amigos e não muito dócil, ainda assim ela tira um certeiro sorriso no rosto de quem é apaixonado por carros, pick ups e, mais especificamente, que ama incondicionalmente o jeito Dodge de criar algo exageradamente autêntico.
Texto: Victor Dertassoli
Fotos: Maurício Garcia
Agradecimentos: Clovis Alves da Silva Júnior, André Fernandes, Maurício Garcia, Renato Bellote.