Prelude

O Formidável Coupê Nipônico

Distante dos holofotes da fama de seus parentes Civic e Accord, o Honda Prelude habita o imaginário de muitos entusiastas.

Se não o tiver em sua garagem ou na de um vizinho próximo, salvo eventos da marca ou algo do tipo, se deparar com um desses pelas ruas e estradas é quase que digno de uma lenda urbana. E que lenda.

Surgido em 1978, trouxe uma nova imagem para a empresa e foi destinado à Honda Verno, (também havia a Honda Clio e a Honda Primo) rede de concessionárias voltadas para os modelos mais esportivos da marca. Resultado do trabalho em equipe chefiado pelo engenheiro Hiroshi Kizawa, ele compartilhava componentes de suspensão do Accord, tinha centro de gravidade mais baixo, era mais largo e trazia em sua dianteira o motor transversal 1.7 SOHC CVCC, com opções de câmbio manual e automático. Seu design foi reestilizado em 1982. Teve em sua terra natal concorrentes como o Toyota Celica e o Nissan Silvia, esses que por aqui são tão difíceis de se ver quanto um cometa.

Primeira geração do Honda Prelude. Foto: Net Car Show

A segunda geração, vinda em 1983, recebeu novo chassi e um motor mais potente, o DOHC chamado B20A, de 2.0 litros com opções de 140 e 160 cavalos de potência. Tinha suspensão dianteira tipo Double Wishbone, que além da eficiência ocupava menos espaço e foi a primeira a ter faróis escamoteáveis (muito característico nos carros dos anos 80) que compuseram muito bem com o design de linhas retas desse modelo.

Em 1985 veio a versão Si (Sport injected) e no ano seguinte, houve um leve facelift.

Segunda geração do Honda Prelude. Foto: Net Car Show

Em 1987 chega a terceira geração, que continuou com o motor B20A, e teve a suspensão Double Wishbone acrescentada na traseira e, que apesar do design muito similar à anterior, teve o capô mais baixo, melhorando ainda mais o fator aerodinâmico e trouxe uma curiosa novidade: a versão 4WS (four wheel steering), na qual as quatro rodas tem esterçamento, sendo que as traseiras esterçavam de 1,5 a 5,3 graus, tornando a dirigibilidade algo muito mais intuitivo e proporcionando melhor dinâmica em curvas e manobras.

Teve a versão INX (no Japão), que tinha os faróis já fixos, lembrando o Legend, a Si States (motor 2.1) e a Si TCV (Traction Control System).

Terceira geração do Honda Prelude. Foto: Net Car Show

A quarta geração chega em 1992 e a abertura das importações de veículos no Brasil nessa época permitiu que este legendário coupe entrasse em nosso mercado.

O design dessa geração teve uma consistente evolução em todos seus aspectos, o que causa um grande impacto visual, ainda que este carro já tenha 30 anos de idade.

Ele é uma verdadeira aula de como se fazer um ótimo design, na qual o primeiro capítulo trata-se do exterior: na vista lateral (a conhecida e importante side view) a conjunção de seus 4,44 metros de comprimento e 1,29 metro de altura realmente denotam uma proporção bem alongada, aerodinâmica e baixa, com poucas linhas que têm arremate certeiro e suave. Pela vista total traseira, seu 1,76 metro de largura junto com a baixa estatura compõe ainda mais um motivo para constatarmos que estamos diante de um belíssimo esportivo e quando nos deparamos com sua grade frontal bipartida e unida aos faróis, separados pelo símbolo, esse que, ladeado por dois vincos que se abrem até o final do capô com o para-brisa realmente são uma das marcas registradas dessa geração.

Fotos: Maurício Garcia

Ao mesmo tempo em que seu design é equilibrado o suficiente para trazer paz aos nossos corações, ele também evoca pura esportividade e com certeza uma vanguarda do design nipônico, sendo uma das grandes referencias do automóvel japonês.

O segundo capítulo dessa aula vai para o interior, e aí tem- se uma imersão em um mundo à parte. Quem tem/teve um Prelude muito provavelmente já se sentiu a bordo de uma nave espacial. Seu painel inteiriço e linear, que vai de uma porta à outra, tem o cluster e outras funções ocultas em um painel digital. A percepção espacial a bordo dele é algo praticamente sem igual e seu acabamento é impecável. As saídas de ar-condicionado são integradas nas portas e os bancos concha completam a ótima ergonomia e posição de dirigir.

De fato, poucas vezes na minha vida eu vi um interior de um carro tão lindo quanto esse.

Foto: Maurício Garcia

Essa geração do Prelude representa um período de auge da Honda, quando Ayrton Senna havia conquistado seu 3º título com os motores da marca e participado do aprimoramento do NSX. Toda aura em torno dos modelos da marca dessa época tem um forte fator emocional, principalmente para nós, brasileiros.

Esse exemplar é a versão Si de 1992 e está com o sortudo proprietário desde 1997 até então. Todo original, com câmbio manual e em excelente estado de conservação fazem dele uma verdadeira jóia entre os poucos exemplares inteiros existentes por aqui.

Foto: Maurício Garcia

Com entre-eixos de 2,55 metros e distribuição de peso em 58% na dianteira e 42% na traseira ele tem ótimo potencial dinâmico. E o grande responsável por isso é o motor transversal de 2.3 litros, um H23 que gera 160 cavalos de potência e 21,6 Kgfm de torque, fazendo-o atingir 215 Km/h de velocidade máxima e com um 0-100 Km/h em apenas 7,7 segundos. Também teve a versão S, com o motor F22 de 2.2 litros com 135 cavalos e a VTEC com um H22 de 2.2 litros de 190 cavalos. Sim, o Prelude teve uma família própria de motores. E com a suspensão independente nas quatro rodas de fato tornam sua dinâmica muito boa.

Essa geração manteve a versão 4WS (Four wheel steering), que é raríssima aqui no Brasil.

Foto: Maurício Garcia

Em 1997 tem-se a quinta e última geração do Prelude que, ainda utilizando os motores H22 e F22, trouxe um novo design, o sistema ATTS (Active Torque Transfer System – controle de embreagem e diferencial) e versões especiais, a Type SH (Super Handling), a Motegi (rodas aros 17 e body kit) e a Type S, essa última disponível apenas no Japão.

Com o declínio das vendas, foi produzido até 2001, encerrando a história desse formidável coupê nipônico.

Quinta geração do Honda Prelude. Foto: Net Car Show

Texto: Victor Dertassoli

Fotos: Maurício Garcia

Agradecimentos: Cezar Werneck

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